Acordei quase meio-dia e sem vontade de me levantar. Acordei, mas ainda não despertei, embora já sejam quase 16h. É bem verdade que estou à flor da pele, como costuma-se dizer quando estamos com as emoções afloradas. Lembrei-me de Belchior cantando (e afirmando) que “o tempo andou mexendo com gente, sim”. Talvez seja isso: sim, o tempo está passando. Sim, estamos morrendo lentamente dia após dia. Não adianta pensar que estamos vivendo, pois cada dia que passa é um dia a menos na nossa contagem efêmera na Terra.

Com isso, lembro-me também de uma frase que ouvi há muitos anos, que me afirmaram ser de Michel Foucault, mas que nunca conferi a veracidade e diz: “o que estamos fazendo de nossas vidas?”. Não tenho a resposta para isso e talvez nunca a tenha, por mais sessões de terapia que eu faça. Ninguém nunca a terá. Sim, meu viés existencialista está me destruindo hoje.

É Dia dos Pais e passa um filme em minha cabeça sobre as minhas memórias mais profundas (sendo redundante) de tudo o que já vivi. As melhores memórias afetivas com minha família, em especial com meus pais e minhas irmãs. Faço um retrospecto da vida de meus pais e percebo que, na idade que tenho agora (33 anos), eles estavam casados, com filhos (ou seja, uma família formada), um carro e um imóvel financiado. Tudo o que sempre a sociedade tentou nos empurrar sobre a ideia de felicidade. Ah, sim… faltou um animal de estimação (preferencialmente um cachorro ou um gato).

Talvez seja mesmo esse estilo de vida americano (“American way of life”) dos filmes antigos. Mas a minha geração – e posso dizer que é algo quase de regra daqueles que tem entre 25 e 35 anos – é diferente das gerações anteriores. E é por isso que meus contemporâneos são “campeões” em fazer terapia: para saber lidar com essas (e outras tantas) frustrações de um estilo de vida ideal imposto pela sociedade.

É bem verdade que a vida está passando e que estamos envelhecendo. Surgem as primeiras marcas do tempo: o rosto perde parte de seu viço, surgem alguns fios de cabelos brancos e o corpo sofre uma leve modificação. Apesar de tudo, não troco minha forma física atual pela que tive no passado (em especial, na adolescência). Estou feliz com o que sou (e como estou) hoje. O passado deixou suas marcas em mim e as carrego com orgulho. É impossível não fazer diversas associações ao escrever este singelo texto, na forma de reflexão. Com isso, lembrei-me de Vladimir Maiakóvski, quando afirmou que “não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?”. Não é verdade?

Mateus Almeida Cunha

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